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Mostrando postagens de dezembro, 2019

Um rascunho

           Ele a cheirou novamente. Era aquele perfume que inebriava seu dia e lhe pertubava os sonhos. Como se ela pudesse devorá-lo, ele procurou esquivar-se de toda e qualquer  forma que recordasse ela, mas mais uma vez chegava a conclusão de que isso era impossível. Na semana passada, em um festival de bebidas, absolutamente improvável,  tocou aquela canção que ela adorava do The Cranberries . E depois disso a banda foi embora, deixando aquela ultima musica no ar. Ele queria gritar desesperadamente: "Toque Caetano! Toque Chico!"... Mas de que adiantaria?  A parte mais difícil de seguir em frente seja talvez reconhecer que tudo continua a girar mesmo quando você está parado. Lidar com a canção nem foi o mais difícil, mas esse perfume... como era insuportável! Procurou a todo custo sair daquela situação. Pensou em inventar uma desculpa, sair por uma tangente qualquer... Mas qual é! Isso seria uma grande covardia. Alem disso, sentir aquele cheiro era, no fundo, uma delic

Profundo

Quando nos apaixonamos Meu mundo ruiu, Minha alma subiu Até o primeiro dos céus Elevou-se o caos Restaurou as energias vitais Eu, a mais intensa Dos suicidas   potenciais Apaixonada por   todos os mares Marés e causas Amante dos vento Conhecedora das curas profundas Fiz da poesia o refúgio das minhas horas vazias Pela sua ausência.

Ferida

Observo que consideras injusto Tudo o que eu escrevi Veja se, afinal, não estava certa Ser tudo sobre ti Querido, Fende a casca, Olha a alma Retira o espanto Desvenda os olhos Eu me mostrei toda Viste só o que quiseste Menino mimado Apreendeu o que deu O mal que há em mim E me fez companhia banal Logo eu, que te coloquei no meu céu.

Á literatura que habita em mim

Descobri Que não preciso de porquês para viver Já estou viva Não preciso de motivos para fingir As máscaras e as cascas  são feitas mesmo para cair Percebi Que nunca me faltaram razões para escrever Sempre fiz E sempre escondi Temia que a face real chocasse o mundo Chocou E foda-se Eu não morri Não queimei Não perdi Resisti Aprendi A duras penas Coleções de meias e cicatrizes Cruéis De que tocar almas É enfrentar bedéis.

Ser - Humano

Não é possível forçar-se a qualquer coisa por muito tempo A vida humana é pratica e essencial Seja com o que tens nas mãos a oferecer Ou não seja, Mas veja: Olhos de vidro não o levam a lugar algum Se a carne e os ossos são frágeis São também o caminho para a existência real Do ser A única possível e experimentável Frágil e tênue linha De sentires desconexos E de razões instáveis Ser -Humano: Método de existir, baseado nas sensações do corpo E nas necessidades da alma.

Análise

Ao buscar versões mais cruas de mim Mais essenciais,  Novos versos se fizeram  Pela escrita e pela fala Pela visão, míope  Pelo tato  Pelo faro  Intuitivamente  Fui designada  Às profundezas de meu próprio iceberg  E de dentro dele, saia um gemido latente Insistente e inconsciente  Que dizia:  “O oceano é grande demais Para você se limitar a praia”.